Alguns podem argumentar: “mas os seres vivos apresentam adaptações que os tornam perfeitos para o que eles fazem, veja os grandes predadores”. A perfeição não permite erros e nem sempre um predador captura suas presas, que também possuem adaptações. Alguns animais apresentam adaptações bem interessantes, mas alguns podem descordar e chamá-las de bizarras. Os Cecidomiídeos são mosquitos bem pequenos que podem se desenvolver por dois caminhos, por seqüências normais de mudas de larva a pupa e no final emergir como um mosquito comum, sexualmente reprodutiva. Na outra forma de desenvolvimento as fêmeas podem fazer partenogênese (é quando a fêmea não precisa ser fecundada e tem seus filhotes a partir do desenvolvimento de seu óvulo), o interessante é que elas não chegam ao estágio adulto, se reproduzem no estágio de larva ou pulpa e não botam ovos. As crias se desenvolvem nos tecidos do corpo da mãe, basicamente a descendência devora a mãe de dentro para fora. Esse tipo de adaptação é diferente da que estamos acostumados onde os seres vivos vão passando por uma constante seleção de formas mais bem adaptadas ao meio ambiente até alcançarem a “forma perfeita”. Neste caso a adaptação pode estar relacionada a recursos (Como alimento) que podem ser raros no ambiente, mas muito abundantes quando encontrados. Essa é uma estratégia interessante em que o número de descendentes de uma população é aumentado ao máximo quando um recurso é encontrado, o que resulta na sobrevivência da população.
O exemplo anterior nos traz uma pergunta que derruba lógica de que os animais teriam sido projetados para seus papéis por um criador. Por que Deus criaria um ser vivo que comeria a sua própria mãe? A evolução consegue explicar a existência da vida em sua plenitude sem a interferência de um criador. Não estou dizendo que Deus não existe, como sabiamente diria uma professora minha: ”A ausência de evidência não é evidência de ausência”, a falta de evidências da existência de Deus não prova que ele não exista. O ponto é que a história da vida na terra pode ser muito bem explicada sem a participação de Deus. Um ponto que do argumento criacionista é o da ausência de registros fósseis de hominídios intermediários entre Homo habilis, Homo erectus e Homo sapiens, por exemplo. Explicam que Deus teria criado esses seres separadamente. A teoria Alopátrica revela uma explicação interessante, a especiação (evolução de uma espécie em outra) ocorre em populações pequenas e isoladas onde uma variação genética favorável pode espalhar-se mais rápido e a seleção natural pode ocorrer de forma mais intensa, por ser um local onde a população não está firmemente consolidada. Deste modo a especiação ocorreria rápido, quando pensamos no tempo geológico, e por isso seria muito difícil encontrar esses intermediários no registro fóssil.
A beleza da vida não está na “perfeição” e sim nas diferenças, base da biodiversidade. Os seres vivos são lindos, não no sentido tradicional da palavra. Nossa beleza está na diversidade de formas, adaptações, comportamentos. A vida deve ser adorada e respeitada por sua beleza imperfeita.
Referência
Gould, S.J. Darwin e os grandes enigmas da vida. 2ed. Martins fontes, Brasil, São Paulo. 1992.