sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Aos politicamente corretos


Desculpem-me os politicamente corretos, mas gostaria que todos vocês fossem tomar no meio do cú de vocês. Em um fim de semana que passou estava eu em Cavalcante com um amigo sentado a mesa de um bar depois de uma semana inteira de ralação para fazer acontecer um curso. Foi foda, deu um trabalho do cão e estávamos em nosso momento de descontração. Falávamos um monte de besteira e surgiu um relato a respeito de um figura que em um encontro estudantil ficou pelado e deixou que enfiassem pasta de dente em seu rabo e mostrassem para todos. Eu não tenho nada haver com a vida de ninguém, mas uma pessoa faz um relato desse na minha frente na mesa de um bar e quer que eu não caia matando? Aí já é pedir demais. Sacaneamos esse povo “excêntrico” até a exaustão. Não era nada pessoal, afinal não conhecíamos o sujeito, mas falar besteira pode ser bem divertido quando se está em boa companhia.



Confesso que estávamos inspirados nessa noite e começamos a falar de música. A música do bar era excepcional, ouvimos CCR, Raul Seixas, Zé Ramalho, Almir Sater, Zé Geraldo e quando começou a tocar uma música dos Beatles começamos a tirar um sarro deles também, afinal esse é um dos motivos da existência de uma mesa de bar. Eu comecei: “Para mim o John Lennon e o Paul Mccartney eram umas bichinhas arrogantes...” e por aí eu fui. Vamos combinar, eles fizeram músicas maravilhosas mas eram dois chatos de galocha. Também falei bem do George Harrison, o Beatle mais legal. No momento em que abordávamos esse assunto reparei que uma das meninas saiu incomodada com o papo, na hora nem liguei porque estávamos em um momento de descontração, depois percebi que ela ficou indignada porque estávamos dizendo coisas que “não deveriam ser ditas” ela se incomodou porque estávamos chamando um monte de gente de bicha e de seu ponto de vista estávamos sendo homofóbicos. Eu não acreditei, a guria nos julgou só porque usamos uma palavra que ela não gostou e estávamos tirando o maior sarro de tudo e todos. Sentir-se incomodada pelas besteiras que falávamos tudo bem, mas nos julgar por isso?



É por isso que os politicamente corretos me irritam, são muito apressados em seus julgamentos, se acham melhores que os que não compartilham de sua opinião e enxergam as pessoas como uma coleção de clichês. A pior parte é que a guria já nos conhece a um bom tempo, e mesmo assim nos julgou como qualquer idiota que acaba de conhecer alguém e tenta encaixar uma pessoa em um estereotipo. Acredito que as pessoas são complicadas demais para serem julgadas de forma leviana e sem um mínimo de cautela. Poucas coisas me deixam puto como isso. Vocês, politicamente corretos, deveriam ler mais, andar mais por esse mundo, conversar mais com as pessoas desde o mendigo da esquina que te pede dinheiro para a cachaça até a vovozinha que leva o seu poodle para passear. Se fizessem isso veriam que apesar das aparentes diferenças somos mais parecidos do que imaginamos, desta forma acredito que seriam mais cautelosos em seus julgamentos. Como vocês não conseguem pensar com clareza, aí vai um toque: vocês não são melhores!


Texto gordo


Pensei em te escrever um texto leve, mas de escritor gordo só sai texto recheado, porque coisa leve não engorda e não tem gosto.

Não escrevo coisa magra porque você tem gosto demais para ler coisa sem graça, não escrevo coisa sem graça porque quero que o texto ao ser pronunciado pela sua boca, deixe o mesmo gosto doce que tenho na minha ao te beijar.

Quero que meu texto encha seus olhos da mesma maneira que os meus crescem ao te ver. Quero que prenda sua respiração da mesma maneira que prendo a minha quando estamos juntos na cama. Quero que essas palavras te façam perder as suas, da mesma maneira que não pronuncio as minhas na sua frente. Quero palavras gordas para você sentir todos os pesos que sinto em nós.

Mas não quero lágrimas, mas se elas rolarem as roubo de ti para fazer uma piscina de águas salgadas para brincarmos brincadeiras de amantes, para brincarmos de Niterói porque por enquanto Niterói nos falta.

E no fim do meu texto, não deixo nenhuma sobremesa, porque não sei se consigo escrever melhor que faço brigadeiros, então, se você ler e sentir falta da conclusão, vem e me fala: quero um brigadeiro.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sonho Lúcido


Há muito venho tentando alcançá-lo, perante a injustiça de que muitos conseguem tal experiência com facilidade e até com certa freqüência. Li sobre o assunto, descobri um psicólogo que treinou sua mente a alcançar tal estado de consciência em seu inconsciente chegando a ter vários sonhos lúcidos por noite. Treinei-me, havia conseguido apenas uma vez um estado de semilucidez, porque após alguns segundos perdi completamente a lucidez. Experiência que para mim não contou, quero horas de sonho lúcido.

Até que essa noite, no meio de um pesadelo sem pé nem cabeça, eu parei no momento em que estava para ser capturado pelos meus medos e pensei "Isso é um sonho!". Acabei com quem me perseguia num único segundo, depois comecei a pensar com o que gostaria de sonhar. Escolhi passar uma manhã com a infância de minha mãe, viajei no tempo, cheguei na casa dos meus avós e me apresentei como um parente distante, claro que meus avós acreditaram, eu quis que eles acreditassem. Passei uma manhã inteira brincando com minha mãe ainda criança, ela me chamava de tio e tinha plena confiança em mim, pulamos amarelinha, pulamos corda, brincamos com um de seus gatos... Uma manhã maravilhosa, terminamos almoçando juntos, um arroz com feijão divino, e um bife de fígado acebolado, que ela no início não queria comer, mas com muita insistência minha comeu as colheradas que eu levava à sua boca. Nos despedimos afetuosamente com um abraço e um beijo e prometi que voltaríamos a nos ver.

De tarde resolvi visitar meu pai, mas não queria encontrá-lo na sua infância, resolvi encontrá-lo com a mesma idade que eu tenho hoje, 23. Cheguei à sua faculdade, me apresentei como um parente de sua namorada (minha mãe) e o chamei para ir a um boteco ali perto. Fomos e conversamos uma conversa animada, éramos dois jovens com muita vida pela frente, os dois com muitas incertezas, porém com muita coragem. Foi bom ver meu pai dessa forma, um rapaz disposto a aprender a viver a sua vida do jeito que lhe convir, com muito a aprender. Conversamos sobre os nossos futuros e foi ainda melhor conversar com o meu pai sobre o futuro sem que ele o tivesse vencido, foi maravilhoso poder falar de meus planos sem ter a voz da experiência para julgá-los. Terminamos a tarde tomando uma cachacinha de saidera, nos abraçamos e combinamos mais uma tarde daquela.

De noite resolvi visitar minha irmã, mas queria seguir o padrão de ver meus familiares numa época em que eu não os conhecia, e minha irmã eu a conheci durante toda a sua vida, exceto no futuro, então foi para lá que eu fui, cheguei à sua casa e ela me reconheceu como seu irmão, não estranhou que eu estivesse anos mais novo, simplesmente sentou comigo para conversarmos. Ela pegou um livro seu que havia sido publicado, era um livro de fotos artísticas que retratavam o cotidiano das pessoas comuns, eram fotografias lindas, tocantes. Depois fomos jantar, a conversa foi animada e íntima, ela me tratou com o carinho de que os irmãos compartilham com a diferença que agora ela era a mais velha. Não perguntei sobre seu marido (se é que ela tinha), nem sobre seus filhos (idem) e nem sobre seu emprego, a única pergunta ocorreu no final da noite, quando ela estava tomando um café e eu um licor delicioso que ela tinha feito, peguei sua mão esquerda com minhas duas mãos e perguntei:
-Luísa, você é feliz?
Ela abarcou minhas mãos com sua mão direita, sorriu um sorriso sincero e disse:
-Sim, muito.
Nos despedimos e eu saí pela porta dos sonhos e entrei no mundo real.