quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cavalheirismo


Tome muito cuidado com as pessoas de fala mansa e educada, Os bons modos são a máscara perfeita para o FILHO DA PUTA! Instintivamente eu já não conseguia confiar numa pessoa cheia de palavras macias, mas nos últimos dias me deparei com um perfeito canalha que me fez pensar sobre isso.
Não me entenda mal, eu não sou mal educado. Meus pais me ensinaram a boa educação, mas foi uma educação simples da origem humilde deles. Mais importante que comer de boca fechada e não colocar os cotovelos na mesa, meus pais me ensinaram a ser decente, a ter caráter.
Então, quando me expresso o faço de forma natural e muitas vezes chulas (lê-se: eu falo palavrão pra caralho!). Mas apesar disso, trato a maioria das pessoas com o respeito que elas merecem. Digo maioria porque não sou perfeito, erro com as pessoas também, mas exatamente por ter firmeza de caráter o admito.
Mas acho engraçado que as pessoas confundam as belas palavras entoadas por pessoas baixas. Se esquecem de que as palavras não são atos em si, foram feitas para signicar algo muito maior.
Sabe quando rola aquela discussão entre duas pessoas e uma delas simplesmente perde a cabeça, grita palavrões, ofende o outro e quem vê aquilo automaticamente imagina que aquele cara, na melhor das hipóteses, perdeu a razão junto com a cabeça. Bem, ao meu ver, pode ser que o outro tenha feito algo que merecesse aquela reação. Pior, pode ser que o estourado esteja defendendo o que é certo com todo o fôlego e criatividade (xingar bonito é uma arte para poucos!) possível e isso pode ser firmeza de caráter.
Não digo que todas as pessoas que se expressam de forma educada são canalhas, digo apenas que a forma de um sujeito se expressar não deve ser utilizada para lhe avaliar caráter. Você discorda? Então vá pra P*T* QUE TE P*R**!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Brasília


De olhos fechados respiro fundo, o cheiro do ar frio e seco misturado com a poeira me dizem que estou em casa. Em meus ouvidos as batidas sólidas dos tambores do calango voador, é bom saber que minha cidade tem cultura, tem gente que pensa diferente, age diferente. A distância nos faz valorizar coisas simples, uma postura, um olhar, o clima. Vejo rostos que há muito não via. A recepção é acolhedora, a cidade mais pacífica. Por aqui é possível andar tranquilamente pelas ruas, a cidade me dá a possibilidade de me distrair, me perder por completo em pensamentos, ver beleza nas pessoas. Caminhar por este pais, conhecer lugares realidades e pessoas é libertador, mas há um momento em que ou abraçamos uma nova cidade como nossa ou voltamos para fazer diferente.

As pessoas interessantes que conheci aqui me deixaram mal acostumado. É possível ver nelas profundidade, coerência, bons argumentos numa conversa agradável e despretenciosa. As mulheres não são submissas, são inteligentes de uma forma sofisticada e atraente, elas demonstram seu charme e feminilidade defendendo idéias. As ruas são largas, as pessoas educadas. Para o resto do Brasil Brasília é a capital política desse país, já ouvi opiniões absurdas de pessoas de fora que nos julgam mal, mas isso não é relevante. Brasília é uma cidade cultural e sua mola mestra é a musica. Aqui se faz musica com qualidade e competência dentro dos infinitos gêneros musicais, o espírito dos músicos é revelado em seu som e o que vejo é uma compreensão, mesmo que inconsciente, do ouvinte que se deixa envolver.

O nome da minha cidade é manchado por escândalos políticos, corrupção, preconceito. E nesse cenário, nesse solo pútrido nasce uma flor, a música. Ela é o que resta de mágico nesse mundo, é a expressão do espírito humano livre, puro e simples. Em Brasília as pessoas são musicais, ver algo assim traz certo conforto, me dá esperança.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Conversa de Banco de Praça


Era o fim de uma tarde fria, desejo e desespero caminhavam juntos por uma rua movimentada. Podiam sentir o estado de espírito de cada transeunte e quais os pertenciam. Decidiram-se sentar em uma praça e começar seu jogo. Ambos observaram uma mulher loira, atraente, capaz de deixar qualquer homem louco. Desejo, impulsivo como era disse:

- Aquela me pertence. Sua mente tem ambições que compreendo muito bem. Dinheiro... muita grana, luxo, um homem poderoso. Essa foi fácil.

A mulher meche no cabelo com todo seu charme feminino, solta um sorriso de satisfação imersa em devaneio particulares. Desespero então replica:

- Não tão rápido irmãozinho. Se reparar bem ela tem mais de trinta e cinco anos e começa a entrar em meu domínio. Não namora nem um figurão, sem relacionamento estável, tem um emprego modesto e a solidão que sente só nos torna mais íntimos.

O sorriso desaparece do rosto da mulher, surgem rugas de preocupação e sua caminhada para casa torna-se mais discreta e introspectiva.

Desespero avista um mendigo tocando um violão, meio desafinado, sentado em uma esquina ao lado de um gato preto que os encara balançando o rabo de um jeito que só os felinos sabem fazer. E então diz:

- Aquele ali é meu. O infeliz está em frangalhos, não come uma refeição descente há quatro dias. Não tem parentes vivos e sabe que Quando nossa irmã mais velha vier estará sozinho.

Um homem de cabelos compridos, barba que usava uma camiseta de Robert Jhonson deteve-se diante do homem para ouvir a música que tocava. Era Death Bells do Lightining Hopkins. O cabeludo sorriu com o canto da boca, tirou Cinco reais e mais umas moedas que tinha no bolso, colocou no chapéu do homem. Desejo disse:

- Agora ele é meu. Consegue vislumbrar uma refeição bem servida e uma cachaça para aquecê-lo à noite.

- Desejo, você tem visto nosso irmão mais novo?

- Há muito não o vejo por quê?

- Por nada, ele apenas passou por minha mente agora. Estaríamos ferrados sem ele.

- Verdade, o que seria da humanidade e de nós sem o Sonho.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Franciscanos


Dizem por aí que somos os novos franciscanos. Seria fascinante, mas não acho que seja o caso. Não o meu pelo menos. Não sinto a nobreza do espírito franciscano em mim, vejo a terra apodrecer pela luxuria de muitos, uma fúria me consome. Se Deus existe ele definitivamente tem senso de humor. Nossa espécie no auge de sua razão e consciência é uma das maiores catástrofes da terra. É preciso fazer algo e muitos que fazem se perdem na arrogância intelectuóide e status da academia.

Conheço muita gente que só quer tocar sua vida de uma forma convencional. Arrumar um emprego estável, ganhar uma boa grana, ter filhos. Respeito isso. O que não entendo é porque é tão difícil para tanta gente aceitar o que faço. Não quero ser funcionário público. Não preciso ganhar 10 mil reais por mês. E não pretendo constituir família tão cedo. Ainda há muito que fazer. Ralo pra cacete como muita gente, depois de um dia cansativo só quero chegar em casa e relaxar. Deparo-me com o presidente do meu país desrespeitando minha profissão em rede nacional. Há muita coisa errada, falta educação até para nossos governantes. As pessoas nem se dão conta do quão fodidas estão.

Por sorte encontramos pessoas interessantes no caminho, que tem fé. É reconfortante ver que ainda há românticos em minha profissão, esses são aqueles que nos dão força para tocar em frente. Para minha infelicidade não sou como esses gigantes filhos de Gaia que levantam-se mais fortes ao cair. Ao ver tantos erros às vezes me parece mais adequado sentar tranquilamente em um beco escuro numa noite fria e molhada de novembro enquanto nosso tempo acaba. Afinal o que um unico individuo poderia ter feito contra os senhores da soja, das grandes empreiteiras, governantes estúpidos. Uma cerveja, a idéia de como as coisas poderiam ser é o que me resta. Um dia não mais existiremos, pelo visto levaremos metade do planeta com agente. Esse será nosso legado...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Homenagem a Sivirinin


Puta gato chato, ranzinza, reclamão... Não gostava de colo nem de carinho, ele queria que a humanidade lhe deixasse em paz! Além do gênio difícil ele tinha a saúde frágil, vivia doente! Tinha um problema de pele que de tempos em tempos danava a coçar chegando a ficar na carne viva (deviam ser os nervos). Tinha os rins fracos e, no fim, a medula parou de trabalhar. Gato complicado aquele!

O diabo do gato batalhou desde o nascimento, tendo de lutar para sair do ventre de sua mãe. Nasceu cheio de problemas de saúde, foi para o veterinário numa caixinha de sapato. Logo depois seu pai morreu, sobrando ele e sua mãe.

Mas deu sorte (talvez ele não concordasse, mas garanto que sim), sua dona o amava e fazia de tudo para que ele se sentisse confortável e feliz! Batalhou até o último momento pela sua saúde. Mas a história de Sivirinin não deve ser lembrada por essas coisas, a história dele deve ser lembrada por ser uma história de amor!

Apesar do gato nutrir um desprezo enorme pelos humanos (há não ser pela sua dona, que ele tolerava e em raros momentos chegava até a pedir carinho) ele amava desesperadamente sua mãe, a gata Miella. Miella é o oposto do filho, carinhosa com qualquer pessoa que se aproxime, saudável e forte como um touro! Miella sobe em lugares que muitos gatos nem pensam em tentar, adora um carinho na barriga e ronrona forte como um trator.

Sivi amava Miella. E provou esse amor em inúmeras situações. Se você pegasse a Miella para dar banho ou qualquer coisa que desagradasse a gata, assim que ela miava ele aparecia aos seus pés e miava bravo, querendo que parassem de atormentá-la. Se fosse o contrário, Miella se escondia para evitar passar pelo mesmo que seu filho.

Mas não é só isso. O gato só ronronava para ela, todos os dias de manhã ele ia mamar (sim, com 10 anos o gato ainda mamava) e ronronava!

Algumas vezes os dois se desentenderam. E em algumas situações brigaram feio e sempre quem saia machucado era o Sivirinin, já tivemos de sair correndo com ele para o veterinário por conta de um machucado feio que a Miella causou a ele. Mais de uma vez, voltando do trabalho, encontramos o apartamento todo ensanguentado, parecendo um filme de terror, por causa dos machucados que o pobre gato sofria durante essas brigas. Mas o surpreendente dessas brigas é que, mesmo sempre levando a pior, Sivirinin é quem procurava sua mãe para dormir com ela, ficar com ela, enfim, fazer as pazes e Miella nem queria saber (Miella é uma gata rancorosa).

Sivi aguentou bravamente seus problemas de saúde por 10 anos, ele só parou de lutar quando finalmente apareceu outro gato para fazer companhia à sua mãe, o J Aparecido. J apareceu do nada, ainda muito pequeno, achado na rua.

J ADORAVA Sivi. Já a recíproca não era bem veradeira, Sivirinin suportava J, chegava até a brincar com o caçulinha da família e esperou mais um ano para ter certeza que aquele gato vira-lata iria cuidar bem de sua mãe. Quando J completou um ano, já estava mais calmo e nutri um respeito enorme por Miella.

Dessa forma Sivi decide partir, parar de lutar. Sivi quis finalmente descansar...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Uma Manhã Fria


Era uma manhã fria, quase tão fria quanto sua decisão. O tempo estava fechado. Não chovia, tanto ele quanto o tempo já haviam chovido demais por aquelas bandas, agora ia chover em outro lugar. Ele chega na rodoviária carregando uma mochila e um case onde está a sua viola. Um olhar perdido, porém determinado passeia pelos inúmeros nomes de cidades. Não decidindo para onde ir, ele resolve tentar a sorte. Aproxima-se de um guichê e fala com uma senhora de meia idade:

— Qual é o próximo a partir?

— Para qual cidade senhor?

— Qualquer uma, precisa ser o próximo a sair.

— bem, tem um ônibus que sairia agora para Uberlândia, mas vai demorar uns trinta minutos por causa do alagamento que aconteceu ali na saída.

Ele aceita, compra a passagem e vai em direção à plataforma de saída do ônibus. No caminho esbarra em um senhor. O velho, que devia ter uns setenta anos, era negro, usava um chapéu típico de homem simples do interior, possuía uma longa barba branca, um velho case com um grande arranhão em sua lateral onde provavelmente carregava um violão e um olhar de quem já havia visto muita coisa na vida. Ao se esbarrarem o velho deixa cair algumas letras de música. Ele consegue ver algumas letras e uma em um papel amarelado lhe chama a atenção, ele consegue apenas ver o titulo: “Manhã Fria”. Quando volta o seu olhar para o velho percebe que o senhor estava a olhá-lo com certa curiosidade.

— Um café pela letra da música que está vendo no chão.

Surpreso pela proposta e envergonhado por ser a causa do acidente começa a recolher as folhas caídas no chão e demora a responder.

— Não me importo com a negativa, mas gostaria muito de uma resposta, o tempo é curto e a estrada é cumprida.

— Me desculpe senhor, estou meio aério esta manhã. Claro que aceito a proposta, tenho que esperar ainda meia hora para partir, uma boa prosa será muito bem vinda.

— Que bom, pode ficar com a letra que escolher.

— Vou ficar com essa mesmo, “Manhã Fria”. Agora me deixe pagar minha parte.

— Boa escolha, eu, no seu lugar, escolheria essa também.

Os dois homens vão andando em direção ao café sujo da rodoviária, sentam-se no balcão grudento e pedem um café cada um.

— Diga, meu jovem, para onde está indo? Se não for muito abuso de intimidade da minha parte.

— Uberlândia, e o senhor?

— Ahhh, eu estou chegando, mais uma chegada antes da última partida. É bom estar em casa depois de tanto tempo. Muito mudou, mas os olhos, de vez em quando, conseguem ver o passado.

Sem compreender muito bem o que o velho dizia, respirou fundo e mergulhou em seus pensamentos. A vida que deixava para traz, aqueles lindos olhos castanhos, seu emprego. Ele sabia que não ia ser fácil, mas afinal o que tinha sido fácil em sua vida até agora? Estava abrindo mão de uma vida certa por uma incerta. Isso era assustador, mas ele tinha que admitir, a sensação era muito boa pois uma série de possibilidades se abriam diante de seus olhos. Nesse momento o homem deixa transparecer um sorriso e o velho que o observava bate em seu ombro e diz:

— É uma sensação magnífica, não é?

O jovem olha com interesse para aquele senhor com quem conversava. Ele lhe parecia familiar. Olha bem no fundo dos olhos do velho e pensa “devo estar ficando louco, preciso é de uma cachaça e de um blues, não de um café”.

Como que lendo sua mente o velho pede duas doses de cachaça e diz com um sorriso estranho para o rapaz.

— Não se assuste, um dia você vai entender muito do que vem acontecendo com você nessa cidade, inclusive esse nosso encontro. A vida é dura garoto, e deixar um amor antigo é bem difícil, mas geralmente acabamos bem.

Então o velho pega a cachaça que lhe foi servida e mata em um único gole. O mais novo repete o gesto do velho, mas acaba fazendo uma careta, pela falta de costume de beber cachaça vagabunda pura.

— Em Uberlândia as cachaças são melhores. E se você quiser beber cachaças boas, fique um tempo em Minas Gerais - e dando uma piscada para o garoto - além do mais, as mulheres mineiras são especiais.

— Não quero pensar em mulheres no momento...

— Mas isso vai mudar, esse tipo de sentimento não dura tanto, já caminhei com seus sapatos filho.

O velho levanta as mãos sinalizando para a atendente trazer mais duas doses.

— Vamos brindar. Ao mistério das mulheres, que nunca desistamos de tentar desvendar e que nunca consigamos.

— Saúde.

Ambos viram seus copos. O velho olha para o relógio e pergunta:

— Que horas é sua partida?

— Daqui a 10 minutos... Um último conselho?

— Nunca abandone duas coisas: o blues e a estrada.

O velho puxa uma carteira de cigarro do bolso de sua camisa envelhecida pelo tempo, retira um cigarro, ascende e dá uma profunda tragada soltando a fumaça pelo nariz.

— Boa sorte filho, não que você vá precisar dela.

Ao falar a fumaça sai por sua boca e narinas trazendo à memória do jovem a imagem de um preto velho. Ele paga a conta, aperta a mão do velho e caminha em direção ao local de embarque carregando sua mochila, um case e uma canção. Ao subir no ônibus esbarra na porta que causa um grande arranhão no case de seu instrumento, o motorista grita:

— Acorda garoto! Não vai querer me dar prejuizo logo no começo da viagem.

— Desculpe senhor, estava destraido.

Ao entrar no ônibus guarda seu instrumento, se acomoda, pega um papel e começa a escrever uma canção. Letra e melodia são pensadas simultaneamente, como se já estivessem lá, no fundo de sua mente. Ao terminar começa a pensar em um titulo. Olha a paisagem, sente o sossego da estrada e decide dar uma olhada na canção do velho. Pega o papel amarelado pelo tempo, começa a ler. Fica branco ao reconhecer sua letra e as palavras que acabara de escrever só que em uma folha de papel envelhecida e com o titulo: “Uma Manhã Fria”.




Texto escrito em parceria por Pronome Indefinido e João Paulo