quarta-feira, 12 de maio de 2010

Incoerente


Meu corpo dormente, o calor confundi meus sentidos. Alguns dias passam rápidos, outros não. Às vezes cansativos... Gosto daqui, a cidade abriu a possibilidade para compreender melhor as coisas. Ver com outros olhos ainda que sejam meus. Conhecer problemas diferentes, “saber a importância não de ser forte, mas de sentir-se forte. Ver-se em uma situação com apenas suas mãos e cabeça para ajudá-lo.” Algo assim... Continuar sempre inteiro, tranqüilo, pronto para pegar a estrada qualquer hora. Não posso reclamar da minha sorte. Desejei isso por tempo demais, é como se pudesse pressentir o bem que essa vida me faria, ou as mudanças que viriam com ela. Nem tudo é perfeito. Afinal o que em nossa vida é? Só consigo pensar em minhas ilusões, isso não vem ao caso. Mas por que algumas dúvidas permanecem? Não sei. Não sei se quero saber. Às vezes agente só se cansa da marcha, cansa de acreditar em certas coisas, a demora me cansa, meus medos, meu pessimismo. Começo a ver como o próprio umbigo e ego são tão importantes para tanta gente, que preguiça... lidar com toda essa merda. Sei que faz parte, isso não significa que eu tenha que gostar.

Ontem senti saudade. Saudade de um tempo de criança, em que as coisas eram mais tranqüilas, os sentimentos mais brandos. É engraçado pensar nisso assistindo a velhos comediantes brasucas, quando o humor era engraçado, quando nossos heróis eram um mineiro careca que usava peruca, um negão carioca cachaceiro, um cigano e um cearense atrapalhado que carregava no peito um pouco do anti-heroísmo de todos nós. É bom revê-los a essa altura da minha vida e compreender a profundidade desse humor em que o pobre nunca fica com a bela mocinha, não importa o quão verdadeiro seja o que ele sinta. Há um tipo de humor negro por trás das palhaçadas e do pastelão. Compreender que a vida não é linear, não é simples, mas pode ser engraçada. É como se nossos anti-heróis dissessem: “Deixe as mocinhas para os bonitões da TV, do cinema americano, somos brasileiros, somos engraçados”. Não necessariamente o que digo é a verdade, mas não deixa de ser um bom ponto de vista.

Talvez eu esteja amadurecendo, lidando com minhas ultimas ilusões, talvez esteja sendo dramático demais. É como se o biólogo e o músico em mim estivessem caindo no pau. Gosto de tocar, sei tocar e só preciso de uns amigos para fazer um som. Achava que a biologia era simples, mas não é. Poucos detêm o conhecimento e não estão nem um pouco afim de compartilhar. Ainda têm coragem de dar aula de biologia da conservação. É irônico. A pior parte é eles conhecerem a teoria, a prática, a carência que existe de pesquisadores. e trabalhos a serem feitos. Eles têm o poder de ensinar e o que estão fazendo? conservando seus egos. A arrogância da academia me incomoda, isso não é novidade. Mas não sei se quero lidar com esse tipo de gente. Poderia ter uma vida bem mais simples, não ter que ver certas coisas. Acho que o grande problema das pessoas é um só, a incoerência. Levantam bandeiras, adotam discursos , fazem auto promoção, e no fim agem de forma diferente. No fundo parecem estar preocupados apenas com seus preciosos umbigos. A música me parece mais verdadeira, honesta. Aquele é o seu som, sua cara, gostem ou não. Sinto falta da música...

Que porra de texto é esse, começar falando de sensações e aflições pessoais, depois mergulhar em um saudosismo manchado por desilusões. E agora descarrego minhas mágoas sobre a academia e saudade da música. Meu texto parece tão incoerente quanto as pessoas. Só queria escrever algo. Estou cansado demais para lidar com as incoerências das pessoas, assim como as deste texto. Talvez meu texto, particularmente esse ultimo parágrafo, seja uma crítica aos nossos maus hábitos, talvez apenas uma forma de terminar um texto sem ter que dar mais explicações.