sábado, 21 de fevereiro de 2009

Percepções




É interessante como somos enganados por nossa percepção. Na verdade, isso é tudo o que temos para nos orientar nesse mundo e acredito que, em certos momentos, seu valor deva ser questionado. Não me refiro ao sentido prático, mas às interpretações que fazemos dela. Ela nos engana e tenho a ligeira impressão de que evoluímos para sermos enganados, acreditando em nossas percepções, criando e vivendo ilusões. Somos muito bons nisso. Por isso me incomoda o fato de algumas pessoas terem tanta certeza de algumas coisas, certezas são perigosas e é importante questionar. Como podemos ter certeza de algo baseado em nossas percepções? Não sei se estou sendo claro... preciso usar um exemplo. A música, com toda a diversidade de estilos: música clássica, chorinho, samba, baião, blues, rock. É possível, também, observar uma grande diversidade de pessoas que apreciam determinados estilos e tem aversão a outros.

A música toca as pessoas de forma diferente, aflora sentimentos deferentes em cada ouvinte. Talvez por isso seja tão interessante ver pessoas com gostos musicais diferentes conversando sobre música, não há consenso. A percepção delas em relação à música é diferente. Então o que seria real? Qual seria a percepção correta? A de um fã de blues que sente um forte sentimento de identidade com os arranjos e letras profundas de um senhor chamado Robert Johnson, capaz de encontrar consolo na vida sofrida de outro homem. Ou seria a de Um fã de samba que encontra na música o sentimento de identidade cultural, suas raízes e história de seu povo. Qual dos dois estaria correto, supondo que um seja incapaz de compreender com profundidade o significado da música para o outro? Poderia dizer que seriam duas realidades diferentes? Ou duas ilusões diferentes? Prefiro acreditar que seriam duas ilusões diferentes, pois quando dizemos que algo é real não há abertura para reflexões, as pessoas se agarram à sua realidade, certezas e verdades.

E o amor. Esse sentimento entre homem e mulher. Quem não teve um grande amor? É ao mesmo tempo uma dádiva e uma maldição, não conseguimos ver as coisas com a mesma clareza e razão habitual. Muitos se perdem em um beijo, um cheiro, um sorriso, no sexo, em suas ilusões... essas não são palavras de um cético tentando racionalizar o amor. Os sentimentos eles são verdadeiros sim e isso é inquestionável, mas damos a eles proporções absurdas ao ponto de ficarmos perdidos em nossas verdades. Somos enganados por nossos sentidos, na verdade pelas impressões que nosso cérebro faz deles. Muitos acreditam só naquilo que podem perceber, isso é uma pena. Com toda a nossa complexidade é preciso refletir sobre o que sentimos. Isso pode nos tornar mais pacientes, tolerantes, menos agressivos e talvez traga um pouco de paz, talvez...