terça-feira, 28 de outubro de 2008

São Francisco de Assis


Não me importa o que você vá dizer do que a religião católica é capaz de fazer, muito menos do que pessoas são capazes de fazer em nome de um Deus ou até mesmo em nome de santos. Sei que nós humanos destruímos idéias boas em nome de uma instituição, mas não é por isso que vou deixar de admirar um cara, mesmo que ele seja somente uma história cheia de exageros e mitos, afinal de contas, às vezes é bom acreditar naquilo que é mentira, a mentira pode nos tornar mais humanos. Mas não vou discutir o papel da religião, ou de Deus, ou da igreja, nem mesmo quero divagar sobre a fragilidade das religiões perante uma humanidade fraca. O que eu quero realmente é escrever sobre a importância de um tipo de homem, na verdade, sobre dois tipos de homens, e um desses tipos está muito bem representado por São Francisco, cujo dia é o 4º desse mês. Esse santo que veio ensinar muita coisa sobre humildade, caridade, um homem com uma ligação com a natureza fortíssima, mas não é sobre essas coisas que venho aqui escrever. São Francisco, para mim, tem uma lição por trás de todas essas, e é sobre a importância do subversivo, é o novo, é o diferente, é o outro caminho.
Por que?
Ele largou tudo e peitou o papa, chamou o santo padre para o pau! Mostrou para o papa que ele era somente humano, e que poderia estar enganado em muitas de suas idéias. Falou para o maior posto da igreja católica que ele estava equivocado, porque Deus havia dito algo diferente para ele. Louco! Talvez, mas quem me conhece sabe que gosto da idéia de que a loucura tem um pingo de sabedoria.
Não que Francisco tenha sido o primeiro a bater de frente com um papa, afinal de contas São Paulo fez o mesmo com São Pedro. Em algumas cartas de Paulo eu percebi um atrito sério entre eles e os outros apóstolos (e cá entre nós, os apóstolos eram meio burrinhos porque não entenderam nada que Cristo ensinara).
E esses dois santos representam os dois tipos de pessoas importantes: os conservadores e os subversivos.
Mesmo tendo uma tendência a gostar mais dos subversivos do que dos conservadores, de vez em quando é necessário abaixar a cabeça para o antigo, o novo nem sempre está certo. É o mesmo que o careta e o porra-louca, o mundo estaria perdido se existisse somente um deles. Um cria regras e o outro as derruba, algumas se mantem, outras são criadas no lugar das que cairam, e assim a humanidade cresce.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Encruzilhadas


Na vida, com certa freqüência, passamos por encruzilhadas onde podemos ver alguns caminhos a serem seguidos. O mais interessante é que sempre há aquele caminho mais seguro que o senso comum diz ser o mais sensato, o qual traz uma boa quantidade de dinheiro em um curto espaço de tempo. Existem aqueles que se enquadram perfeitamente a esse tipo de rumo que a vida vai levar, mas e aqueles que não se encaixam? Para esses a estabilidade não é o mais importante, não é uma questão de valores, mas o caminho mais seguro simplesmente não é o mais atraente. A vontade de tomar um rumo diferente é mais forte mesmo que seja mais longo e com pouco retorno. O tipo de vida é o que mais atrai, os riscos, os tipos de conquistas que podem ser feitas, o sucesso como homem que passa por esse mundo e deixa a sua marca mesmo que sendo insignificante em uma escala geológica de tempo ou aos olhos dos homens limitados, mas que faça a diferença para outros seres vivos ou até mesmo para algumas pessoas.


A idéia não é ser alguém virtuoso que abre mão de uma serie de coisas por um ideal, isso é bobagem. A resposta está no simples fato de se sentir bem fazendo algo, completamente em paz. É como aquela sensação que temos quando estamos diante do mar em uma agradável manhã ensolarada, então fechamos os olhos para sentir o vento batendo em nosso rosto e farejar a maresia. Neste momento de tranqüilidade, surge um pensamento: Eu estou exatamente onde eu deveria estar.

"There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving..."
Jimmy Page / Robert Plant

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Lado Bicho


Embora muitos prefiram ignorar, há uma base biológica para o comportamento humano. Ao longo da história evolutiva do homem nossos ancestrais foram expostos a situações adversas, mas foram capazes de deixar descendentes. A nossa história nesse planeta tem suas peculiaridades, mas também apresenta semelhanças com a de muitas outras. O fato é que existe um animal dentro de nós que muitas vezes faz aflorar comportamentos não muito louváveis. Meu objetivo não é justificar a falta de caráter, trapaça e falta de moral dizendo que seriam características adaptativas. Por exemplo: um humano que mente e engana tenderia a deixar mais descendentes férteis do que um que não faça o mesmo. Apesar de fazer certo sentido, é importante lembrar que somos criaturas que tem uma fascinante e complexa habilidade de aprender. Não podemos ser deterministas dizendo que nossa base genética determina o nosso comportamento, mas é inegável que existe uma forte influência. Pare e pense, indivíduos da mesma espécie tendem a competir por recursos como alimento, abrigo, defender território. Alguma vez você já parou para pensar no por que de alguns comportamentos que temos? Por exemplo: se você estivesse com fome, e há apenas dois pedaços de pizza sobre a mesa da cozinha de sua casa. Você sabe que sua irmã e o namorado também vão chegar famintos, o que você faria? Garanto que a maioria comeria os pedaços, no máximo deixaria um para a sua irmã. Esse seria o animal egoísta que existe em todos nós, é preciso garantir a sua sobrevivência em primeiro lugar. Caso tivesse existido um indivíduo muito altruísta no passado que se sacrificaria pelos outros, principalmente aqueles que não são seus parentes, seria esperado que este indivíduo se reproduzisse menos, deixaria menos descendentes férteis e esse traço altruísta da personalidade tenderia a desaparecer. A questão do altruísmo é um pouco mais complicada, na natureza observamos que certos sacrifícios são feitos por parentes e muitas vezes têm uma relação com o grau de parentesco (ou grau de patrimônio genético que dois indivíduos têm em comum). Na verdade um ato altruísta entre parentes não seria tão altruísta assim, pois um irmão que deixa um pedaço de pizza para a irmã estaria protegendo parte de seu patrimônio genético que se encontra na irmã, já o namorado que se foda.

Meu objetivo não é mostrar como somos animais perversos. As pessoas são fascinantes, mas muitas vezes se esquecem do seu animal interior. Precisamos estar em contato com o nosso lado bicho para sabermos como interpretar e agir diante do que sentimos. Recentemente assisti a um filme de ficção muito bom, chamava-se “A Bussola de Ouro”. Era um mundo em que cada ser humano tinha um companheiro eterno que era um animal. O mais interessante é que cada animal, tanto aparência quanto o comportamento, teriam uma estreita relação com a personalidade de seu companheiro humano. Nesse mundo os homens podiam ver seu lado animal, conversar e chegar a conclusões juntos. O que desejo para os que lerem esse texto é que encontrem seu lado bicho e possam aprender alguma coisa com ele, além de respeitar o animal que existe nas outras pessoas.