sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O sangue de Cristo tem poder


Aos religiosos que chegarem a ler isso, minhas sinceras desculpas, não é meu objetivo ofender a Cristo ou a Deus. A crítica é à humanidade.

Deus resolveu criar o mundo e seus habitantes e num lapso de arrogância, criou o homem e a mulher. E desde sua criação, o homem vem destruindo tudo que toca, como um Midas às avessas. Após destruir tudo que se encontrava no mundo profano resolveu destruir tudo que encontrava no mundo divino. E essa é a história de como a humanidade se destruiu e de como Deus se redimiu de sua arrogância.

Após o perfeito domínio da clonagem, cientistas conseguiram clonar resíduos encontrados do sangue de Cristo. A princípio o poderoso líquido só era acessível para uma pequena parcela abastada da sociedade, que gastava fortunas para curar suas mazelas, todo tipo de doença era curada com uma pequena porção do sangue divino. Após muitos anos o processo de clonagem se tornou mais barato e após fervorosas reivindicações do resto da sociedade o sangue passou a ser utilizado por todos para a cura de doenças. O efeito rejuvenescedor do sangue elevou a expectativas de vida à números somente vistos no antigo testamento. Mas os efeitos benéficos do sangue estavam para acabar.

O próximo passo dos filhos de Deus foi tentar utilizar o poderoso remédio para resolver problemas diplomáticos. Os governantes tomavam do sangue para resolver suas diferenças em reuniões elevadas a um patamar divino. Muita coisa boa era decidida nessas reuniões, mas pouco se concretizava porque o efeito divino logo se perdia na perdição humana e os governantes voltavam às suas posições iniciais.

Até que um gênio teve a idéia de que a sociedade deveria pagar para que os governantes deveriam ter o sangue ininterruptamente. Os governantes se tornaram divindades. E foi lindo, as guerras acabaram, acordos econômicos surgiram para reerguer países pobres explorados, dívidas externas foram perdoadas... E foi aqui que o sangue começou a se tornar em maldição.

Com problemas políticos e diplomáticos resolvidos a sociedade só crescia, mas a população continuava corrupta, e assim passou-se a ser traficado ilegalmente do sangue. A pessoa comum queria atingir a divindade e passou a injetar o sangue ilegal. Grupos religiosos passaram a utilizar o sangue traficado em suas cerimônias, distribuindo entre os fiéis. A mente profana da humanidade atingindo estados divinos começou a se tornar o maior vício jamais registrado. Em poucos anos o mundo inteiro estava totalmente entregue ao vício, e todos os cantos se encontrava pessoas ajoelhadas, orando, com seus braços amarrados e com seringa na mão.

Aos poucos a única coisa que se tornava indispensável para todos era a droga final, a humanidade esqueceu de trabalhar, de se socializar, de se reproduzir... O homo sapiens não possuía a maturidade espiritual de lidar com a divindade. Lentamente a humanidade foi sumindo, sem que percebesse seu fim. o mundo foi se reerguendo sem a presença do homem até que o ser humano sumiu.

E foi assim que os filhos de Deus sumiram e que Deus se redimiu de seu único erro.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Laura

Era só mais uma noite, ela estava sentada terminando mais uma dose de Whisky ao som da mesma música eletrônica de sempre. Ouvindo as mesmas cantadas e elogios daqueles homens com cabelos curtos, barba feita, perfumes caros. Eram belos, mas quase dava para sentir o cheiro do anabolizante saindo pelos poros da pele. Ela estava cansada do jogo, agora era diferente. Com a idade as mulheres de seu meio enlouqueciam, faziam cirurgia plástica, colocavam silicone, mas ela não; continuava sempre jovem e linda. Envelhecer não era mais um problema para ela, seu mundo agora tinha cores e cheiros diferentes. Passados dez anos desde que encontrara aquele homem cujos olhos pareciam arder em brasas na escuridão da boate e por quem ela tinha sentido uma atração sobrenatural, suas percepções sensoriais havia mudado e agora sua visão de mundo também estava mudando.

Após dez anos freqüentando casas noturnas, saindo com homens belos e com grana, fazendo sexo em diversos lugares, situações e posições que a criatividade humana possa imaginar; faltava alguma coisa... talvez um gesto carinhoso, um olhar de cumplicidade, mas no fundo ela sabia; em seu mundo faltava profundidade na alma das pessoas. Seus cérebros só conseguiam captar imagens que eram projetadas em suas retinas e suas avaliações eram feitas com base em padrões ditados por um mundo superficial que vende a imagem de uma juventude narcisista. No começo ela achava que o fato de não estar envelhecendo era uma dádiva, mas agora sabia que era uma maldição. Ela começava a ter reflexões que nunca tinham lhe ocorrido antes, tinha o corpo de uma menina de 21 anos e a mente de uma mulher de 31. Nunca poderia casar-se, ter filhos e envelhecer; estava presa para sempre a uma existência superficial. Sentada no bar, quando esse ultimo pensamento passou por sua cabeça abriu-se um discreto sorriso no canto de sua boca, matou em um longo gole a sua oitava dose de Whisky e disse em voz baixa “ao menos o safado tinha senso de humor”. Largou o copo no balcão e foi à caça, uma garota precisa se alimentar.