quarta-feira, 30 de junho de 2010

Herói nacional


Recebi por e-mail o trailler da sequência do filme "Tropa de Elite". E aproveito a oportunidade para colocar a minha opinião sobre o primeiro filme. Eu, diferentemente de muitos, não concordo com a idéia "os usuários é que financiam o tráfico". Na verdade, acho que a pessoa que diz uma coisa dessa só quer se abster de um problema social em que ela está diretamente envolvida, sendo um membro da sociedade. A tráfico é fruto da ilegalidade e, principalmente, dos problemas sócio-econômicos de nossa sociedade.

A criminalidade não é fruto do lucro, mas da situação palpérrima em que a maioria dos criminosos se encontra. Ou você acha que se todos os usuários de drogas ilícitas parassem de comprar drogas os traficantes iam dar os braços com os PMs e sair cantando "Nós somos jovens, jovens, jovens/ Nós somos o exército, exército do céu".

Pode esquecer, isso não acontecerá. Assim como a legalização não é, propriamente, uma solução. Da mesma forma, diante da legalidade, os traficantes do morro perdem seus "empregos", porém, continuam armados. Mais uma vez nos debatemos com um problema que perdura, pobreza gera criminalidade.

Mais uma vez não venho colocar a solução para o problema, mas debato a solução estapafúrdia que alguns insistem em defender. Para mim, essa é a solução que a classe média estava procurando para se aliviar da culpa.

São essas mesmas pessoas que costumam dizer: "bandido tem que morrer mesmo". Uma frase tão infeliz, bandido tem que ser reintegrado. É uma mentalidade muito limitada de uma sociedade que destrata a maior parte de sua população e a solução proposta é matar exatamente aqueles que são destratados. Ou seja, maltratar os destratados!

E, é por isso que Capitão Nascimento se tornou um herói. Ele comete atitudes desumanas em pessoas que não são tratadas como cidadãos. Ele é a cara do "bandido tem que morrer" ou "os usuários é que financiam o tráfico", ele é a representação daquilo que a classe média alta pensa. Ele é um herói de uma nação, um herói que representa a noções deturpadas de justiça e segurança de uma população omissa e corrupta.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Poeira da Estrada


Seu nome é Charles. Idade aproximada 26 anos, apesar do nome incomum é mais um brasileiro que caminha por esse país. O andar firme, roupas surradas pelo tempo e poeira da estrada. Foram muitas histórias, lugares, pessoas. Ele não faz parte do comum, simplesmente não concorda com o tipo de vida que tentam lhe impor. Vive como quer. Alguns caras não podem ser acorrentados, as pessoas deveriam entender isso. Trabalha duro, como a maioria das pessoas desse país. É um cara honesto, sabe tratar bem uma mulher. Em suas andanças o que mais sente falta é de uma mulher em sua vida, sentir o cheiro de uma bela mulher, esquentá-la em uma noite fria, estar lá para protegê-la. Ás vezes a estrada é solitária demais... mas o que seria de um homem sem a solidão? Viu lugares maravilhosos, teme que seus filhos só conheçam esses lugares por suas histórias. Sempre soube reconhecer os ventos da mudança, no começo de forma inconsciente. Quando o espírito se agita, as incertezas o atraem, só há uma coisa a fazer e hoje ele sabe, cair na estrada.

Descobriu que viver com pouco não é problema, dificuldades vem e vão. Não é mais um sonhador como costumava ser, isso é bom. A felicidade deve ser algo bem solido, não fruto das ilusões de ninguém. Ele não a vê como um estado permanente, mas é feita de bons momentos vividos com pessoas, lugares, histórias. Já trabalhou muito tempo de graça, viveu de sonhos, teve bons momentos, mas chega uma hora que o espírito de um homem livre cansa de sonhar e deseja viver. Cansa de ter uma formação e um subemprego, cansa de promessas. Já pensou demais, ouviu demais, sabe que é hora de fazer algo com aquilo que tem. Nesse momento da vida de Charles o que existe é um universo de possibilidades reais. Não os produtos da imaginação de um tolo. O tempo de se apaixonar por uma idéia se foi, é hora de ser prático.

A mochila está pronta. Para trás ele deixa um bom amigo, várias pessoas interessantes que conheceu. Sabe que sentirá saudades, isso é um bom presságio. A saudade o torna mais humano, lhe ensinou a valorizar pessoas e sentimentos. Partir é sempre difícil. Por mais que já tenha feito isso algumas vezes ele nunca se acostuma. Sentirá falta da vida simples que levava, das boas cervejadas, conversas... Muitos cruzaram seu caminho e deixaram uma impressão, aumentaram sua compreensão do mundo. Hoje leva sua vida com mais tranqüilidade, menos fúria. Sabe valorizar bons momentos.

Antes de deixar a cidade, entra em um bar do centro da cidade. É um final de tarde de uma quarta-feira, o movimento é fraco. No balcão está um preto velho cujos cabelos e barba grisalha parecem esconder uma verdade por Charles desconhecida, ele sorri para o velho. Todos têm sua história e às vezes os cenários apenas se cruzam como o de Charles e o do velho no balcão. Caminha até uma mesa no canto do bar, pede uma cerveja. Ainda lembra da primeira que tomou ao chegar na cidade, aqueles foram tempos difíceis e agora está a tomar a ultima. Ascende um cigarro e fica em silêncio com seus pensamentos. Ao terminar levanta-se, deixa uma grana extra no balcão e sai sem falar nada. É hora de seguir seu rumo, não há nada a ser dito, pois no final o que fica são apenas lembranças e a poeira da estrada...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Evolução!


Incansável, o planeta gira tentando nos jogar todos para fora de sua superfície. Tudo em vão! E, da mesma forma, o homem castiga tudo que encontra na superfície daquele que não o deseja. Não tão em vão assim, pois muito morre, mas a natureza é uma força que não pára e no fim quem perecerá somos nós e não a vida.


Bilhões de anos atrás uns aminoácidos se juntaram e se tornaram vivos (?!) contrariando todas noções de probabilidade. Mais bilhões de anos e aquela célulazinha originou um número de organismos diferentes. Mais bilhões de anos e surgem os primeiros primatas. Viviam em árvores, em grupos e tudo mais. Até que um dia, um deles olhou para o chão, olhou para os seus pés e pensou “Vou pegar a estrada”. Só não saiu tocando uma gaita porque não a tinha (será que saiu assobiando?).


Foi esse indivíduo que originou o homo sapiens. Pegamos a estrada desde nossa origem. Sem asas chegamos aos cantos mais inóspitos do planeta, caminhando sempre. Fomos arrumando companhia, nos agrupando novamente, criando grupos familiares e por algum motivo em dado momento pensamos: “Pronto, cansei, chega de andar, vou ficar aqui, criar umas vaquinhas, cultivar uns cereais, casar e ter meus filhos”.


Aí um dia, um grande de um malandro (provavelmente o descendente antigo dos políticos) olhou para os pobres coitados que cultivavam e disse: “Olha só, aqui dessa forma vocês estão muito desprotegidos, me dêem uma pequena parte (até parece!) da sua produção e eu asseguro sua segurança”.


Os cultivadores se olharam e pensaram que ele poderia ter razão e era melhor garantir a segurança. Pagaram e continuaram pagando (se identifica?)... Acontece que o malandro protegia os agricultores de um a cada seis ou sete problemas e fazia daquele único caso como um ato de heroísmo e, de alguma forma, os agricultores acabavam concordando (se identifica de novo?).


No fim, um bando de malandro passou a se comunicar, comercializar, a crescer, destruir e estamos na atual circunstância. Muitos chamam o fato de progresso, ou democracia, ou qualquer merda dessas. Mas para mim é tudo uma piada. A humanidade cresce numericamente, mas a realidade da maioria é extremamente precária. Destruímos o chão que pisamos, a água que bebemos e o ar que respiramos. Destruímos não só o que está a nossa margem, mas as almas daqueles que se encontram dentro do sistema.


O contrato já não funciona (se é que já funcionou um dia) e continuamos acreditando que é o melhor que ele nos tem a oferecer. Filósofos e sociólogos insistem em nos mostrar que a nossa realidade é principalmente aquilo que a sociedade nos mostra e mesmo assim não tentamos enxergar nada além disso. Todos morrem sem entender o significado de suas próprias vidas, e aqueles que acham que entenderam se baseiam na quantidade de cifrões que se encontram nas suas recheadas contas bancárias. Já a maioria, deixa simplesmente um punhado de dívidas e sonhos não realizados.


Grande progresso! Grande merda! Grande perda de tempo! No fim a humanidade se dizimará, (e ,levando em consideração as sábias palavras de um grande amigo, a vida continuará) e nisso não resta dúvidas! Se você tem dúvidas, abra os olhos, em plenas discussões sobre meio ambiente, em pleno século XXI, estamos encarando o maior desastre ambiental! Ainda acredita no nosso futuro?


Antes eu me entristecia diante do fim eminente dos seres intelectuais que somos. O fim da escrita, da música, da filosofia, da cultura... Mas, na realidade, é o fim de muita coisa ruim, muita mesmo! Afinal de contas, na história da vida, a humanidade não passará de uma vírgula... Nem mesmo isso, porque vírgula deixará de existir, talvez antes mesmo do fim da humanidade.


É fogo

Composição: Lenine / Carlos Rennó

Éramos uma pá de apocalípticos,
De meros hippies, com um falso alarme...
Economistas, médicos, políticos
Apenas nos tratavam com escárnio.

Nossas visões se revelaram válidas,
E eles se calaram mas é tarde.
As noites tão ficando meio cálidas...
E um mato grosso em chamas longe arde

O verde em cinzas se converte logo, logo...

É fogo! é fogo!

Éramos uns poetas loucos, místicos
Éramos tudo o que não era são;
Agora são com dados estatísticos
Os cientistas que nos dão razão.

De que valeu, em suma, a suma lógica
Do máximo consumo de hoje em dia,
Duma bárbara marcha tecnológica
E da fé cega na tecnologia?

Há só um sentimento que é de dó e de
Malogro...

É fogo... é fogo...

Doce morada bela, rica e única,
Dilapidada só como se fôsseis
A mina da fortuna econômica,
A fonte eterna de energias fósseis,

O que será, com mais alguns graus celsius,
De um rio, uma baía ou um recife,
Ou um ilhéu ao léu clamando aos céus, se os
Mares subirem muito, em tenerife?

E dos sem-água, o que será de cada súplica,
De cada rogo

É fogo... é fogo...

Em tanta parte, do ártico à antártida
Deixamos nossa marca no planeta:
Aliviemos já a pior parte da
Tragédia anunciada com trombeta.

O estrago vai ser pago pela gente toda;

É foda! é fogo!...
É a vida em jogo!

Um abraço e até o fim!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Caminhar é preciso...


Ano 2010. Hoje foi apenas mais uma tarde de calor. Ao chegar em casa cansado a noite cai pela cidade, o trafego é lento.. O vai e vem dos pedestres me deixa hipnotizado, penso nas variações de minhas emoções, minhas paixões.. Um cachorro quente me espera, que sorte meu camarada fez um panelaço, é bom poder contar com um amigo de vez em quando. Puta que pariu que fome. Enquanto como tranquilamente, ouço as notícias meio distraído. Que merda. Uma puta foi encontrada morta. Viciada. O crack não aparece nas propagandas do governo do estado. Bem vindos turistas, à terra das ilusões. O estado dos Lençóis Maranhenses, da Cultura afro-brasileira, onde suas depravações podem ser realizadas. Como se não bastasse o histórico de exploração e desprezo que essas pessoas já sofreram, os gringos e turistas vem aqui, tiram fotos dos lençóis, das lindas pretas do tambor e caem fora com seus fragmentos de realidade. Tudo o que nos deixam? Uma puta pobre, e provavelmente preta, morta pelo crack. Se bem que alguns gringos ficam, casam-se com uma pretinha e a exploram, como se o que seus antepassados já fizeram não bastasse. Bastardos. Acham que entendem esse país. Gringos... Preciso de uma cerva.

A porra da cerveja ainda está quente.

Às vezes me sento no ônibus, olho as pessoas saindo para trabalhar. Parecem tão adequados às suas vidas, indo para o trabalho com um jeito distraído. Eu cansado, minha barba e cabelos já cobrem a cara quase toda. O trabalho às vezes é cansativo mesmo, mas sempre bom. O que mata é a tempestade de desejos aqui dentro, esse eterno descontentamento, o desejo de mudança. Me sinto o Bukowski sentado sozinho e bebendo do outro lado da rua enquanto o mundo explode. Talvez já esteja nessa cidade há tempo demais e não sei o que vai acontecer.

Agora ela gelou. A cerveja é boa. Confesso que não é a melhor que já tomei. Meu corpo relaxa, estou em casa. É bom sentir-se em casa. O conceito de casa, não é um lugar físico, mas um estado de espírito que te pega desprevenido no meio do furacão em uma Quarta à noite... Preciso ver minha família, não só os de sangue. Sinto falta da companhia deles. Das conversas..

A música me transporta a lugares, lembranças. O Blues é sempre uma boa companhia. Suas variações simples e sólidas, a voz marcante, impossível uma música dessas não deixar uma impressão. Essa é a música dos homens que conhecem as profundezas da nossa natureza. Talvez por isso muitos sejam considerados malditos. Tal compreensão é demais para alguns, mas não para eles. É como se a alma de um homem pudesse ser gravada, suas mazelas, o sentimento diante do caos. Cada fibra do seu ser gravada, compartilhada. Mesmo diante do turbilhão de sentimentos, acordes firmes, calmos, ritmo sólido. É Como se sentir cada nota fosse importante, revelasse uma verdade escondida. Compreender a marcha e continuar. A estrada é longa e as respostas não estão no final esperando por nós. O que interessa é a estrada e o Blues marca o passo da caminhada.

É tarde, o sono ainda não veio. A garganta dói, deve ser uma dessas gripes aí. Passam das três e amanhã o dia começa cedo, não sei se consigo trabalhar amanhã... Essa seria a hora perfeita para um fumante ascender um cigarro, mas não é o caso. O vento manso da janela do meu quarto, a solidão da madrugada, a música da vida noturna, as luzes, os carros. Se para cada cabeça uma sentença, a minha seria Careless Love por Big Walter Horton, minha trilha sonora no momento. O que posso dizer? Sou um dramático por natureza. Um viajante que não sabe mais ficar quieto, minha alma se perdeu na estrada. Caminhar é preciso... é tarde, vou dormir.