domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Comediante


Ele está sentado ali há horas, a cerveja gelada desce por sua garganta como um antídoto para alguém perdido num mundo doente. Está cansado de tudo, pessoas, relacionamentos, de ficar preso no emaranhado de suas vidas. Só quer ser deixado em paz, seu silêncio e solidão lhe bastam. A solidão lhe dá tranqüilidade, seu espírito fica mais manso, é melhor assim... não tem grana, seu jeans e bota velha constatam o fato. Nesse mundo de merda você é aquilo o que você tem, se tivesse mais compartilharia, daria mais, mas não é o caso. Sabe como o mundo funciona, como as pessoas funcionam e mesmo assim tenta ser gentil diante do caos. É cansativo demais... pessoas, suas ambições, visão de mundo limitada, suas percepções distorcidas que apenas tangem a realidade. Ele bebe, na esperança de que o álcool entorpeça suas percepções e as pessoas tenham algum sentido profundo, diferente do óbvio. Por que as pessoas têm que ser tão cruéis umas com as outras? Elas colecionam coisas e no final você é apenas algo a ser colecionado um monte de características que se enquadram no contexto desejado, você está entre um carro e uma tarde de compras no shopping. É só mais uma coisa desejada e quando o desejo acaba você é descartado às vezes com um tapinha nas costas e às vezes aos berros e julgamentos de valores. Que se fodam. Um dia vão se afogar em todo esse sexo, luxuria e corrupção. E ele vai estar lá para ver, quando eles desesperados pedirem ajuda querendo sua gentileza ele dirá não. Não haverá mais uma alma ali, eles venceram, o consumiram por completo. Ele se distancia para manter sua sanidade, é bom ficar distante de toda essa superficialidade arrogante. Não lidar com o ego dos outros, seus traumas, problemas, mentes infantis. É bom demais estar à margem ele é aquele espectador que assiste tranqüilo enquanto o circo pega fogo. O circo é grande demais, e ele é pequeno demais para apagar as chamas que consomem as pessoas, sua gentileza não foi e nunca vai ser o suficiente. Seria interessante descobrir no fim da vida, como uma espécie de revelação, que tudo não passa de uma grande piada. Sua vida uma grande piada. O herói morre, as cortinas se fecham, as pessoas voltam para suas casas pensando "Bom comediante, boa piada, uma cerveja..."