terça-feira, 22 de junho de 2010

Poeira da Estrada


Seu nome é Charles. Idade aproximada 26 anos, apesar do nome incomum é mais um brasileiro que caminha por esse país. O andar firme, roupas surradas pelo tempo e poeira da estrada. Foram muitas histórias, lugares, pessoas. Ele não faz parte do comum, simplesmente não concorda com o tipo de vida que tentam lhe impor. Vive como quer. Alguns caras não podem ser acorrentados, as pessoas deveriam entender isso. Trabalha duro, como a maioria das pessoas desse país. É um cara honesto, sabe tratar bem uma mulher. Em suas andanças o que mais sente falta é de uma mulher em sua vida, sentir o cheiro de uma bela mulher, esquentá-la em uma noite fria, estar lá para protegê-la. Ás vezes a estrada é solitária demais... mas o que seria de um homem sem a solidão? Viu lugares maravilhosos, teme que seus filhos só conheçam esses lugares por suas histórias. Sempre soube reconhecer os ventos da mudança, no começo de forma inconsciente. Quando o espírito se agita, as incertezas o atraem, só há uma coisa a fazer e hoje ele sabe, cair na estrada.

Descobriu que viver com pouco não é problema, dificuldades vem e vão. Não é mais um sonhador como costumava ser, isso é bom. A felicidade deve ser algo bem solido, não fruto das ilusões de ninguém. Ele não a vê como um estado permanente, mas é feita de bons momentos vividos com pessoas, lugares, histórias. Já trabalhou muito tempo de graça, viveu de sonhos, teve bons momentos, mas chega uma hora que o espírito de um homem livre cansa de sonhar e deseja viver. Cansa de ter uma formação e um subemprego, cansa de promessas. Já pensou demais, ouviu demais, sabe que é hora de fazer algo com aquilo que tem. Nesse momento da vida de Charles o que existe é um universo de possibilidades reais. Não os produtos da imaginação de um tolo. O tempo de se apaixonar por uma idéia se foi, é hora de ser prático.

A mochila está pronta. Para trás ele deixa um bom amigo, várias pessoas interessantes que conheceu. Sabe que sentirá saudades, isso é um bom presságio. A saudade o torna mais humano, lhe ensinou a valorizar pessoas e sentimentos. Partir é sempre difícil. Por mais que já tenha feito isso algumas vezes ele nunca se acostuma. Sentirá falta da vida simples que levava, das boas cervejadas, conversas... Muitos cruzaram seu caminho e deixaram uma impressão, aumentaram sua compreensão do mundo. Hoje leva sua vida com mais tranqüilidade, menos fúria. Sabe valorizar bons momentos.

Antes de deixar a cidade, entra em um bar do centro da cidade. É um final de tarde de uma quarta-feira, o movimento é fraco. No balcão está um preto velho cujos cabelos e barba grisalha parecem esconder uma verdade por Charles desconhecida, ele sorri para o velho. Todos têm sua história e às vezes os cenários apenas se cruzam como o de Charles e o do velho no balcão. Caminha até uma mesa no canto do bar, pede uma cerveja. Ainda lembra da primeira que tomou ao chegar na cidade, aqueles foram tempos difíceis e agora está a tomar a ultima. Ascende um cigarro e fica em silêncio com seus pensamentos. Ao terminar levanta-se, deixa uma grana extra no balcão e sai sem falar nada. É hora de seguir seu rumo, não há nada a ser dito, pois no final o que fica são apenas lembranças e a poeira da estrada...

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