Era o fim de uma tarde fria, desejo e desespero caminhavam juntos por uma rua movimentada. Podiam sentir o estado de espírito de cada transeunte e quais os pertenciam. Decidiram-se sentar em uma praça e começar seu jogo. Ambos observaram uma mulher loira, atraente, capaz de deixar qualquer homem louco. Desejo, impulsivo como era disse:
- Aquela me pertence. Sua mente tem ambições que compreendo muito bem. Dinheiro... muita grana, luxo, um homem poderoso. Essa foi fácil.
A mulher meche no cabelo com todo seu charme feminino, solta um sorriso de satisfação imersa em devaneio particulares. Desespero então replica:
- Não tão rápido irmãozinho. Se reparar bem ela tem mais de trinta e cinco anos e começa a entrar em meu domínio. Não namora nem um figurão, sem relacionamento estável, tem um emprego modesto e a solidão que sente só nos torna mais íntimos.
O sorriso desaparece do rosto da mulher, surgem rugas de preocupação e sua caminhada para casa torna-se mais discreta e introspectiva.
Desespero avista um mendigo tocando um violão, meio desafinado, sentado em uma esquina ao lado de um gato preto que os encara balançando o rabo de um jeito que só os felinos sabem fazer. E então diz:
- Aquele ali é meu. O infeliz está em frangalhos, não come uma refeição descente há quatro dias. Não tem parentes vivos e sabe que Quando nossa irmã mais velha vier estará sozinho.
Um homem de cabelos compridos, barba que usava uma camiseta de Robert Jhonson deteve-se diante do homem para ouvir a música que tocava. Era Death Bells do Lightining Hopkins. O cabeludo sorriu com o canto da boca, tirou Cinco reais e mais umas moedas que tinha no bolso, colocou no chapéu do homem. Desejo disse:
- Agora ele é meu. Consegue vislumbrar uma refeição bem servida e uma cachaça para aquecê-lo à noite.
- Desejo, você tem visto nosso irmão mais novo?
- Há muito não o vejo por quê?
- Por nada, ele apenas passou por minha mente agora. Estaríamos ferrados sem ele.
- Verdade, o que seria da humanidade e de nós sem o Sonho.
Um comentário:
arrepiei! :p
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