terça-feira, 7 de setembro de 2010

Conversa de Banco de Praça


Era o fim de uma tarde fria, desejo e desespero caminhavam juntos por uma rua movimentada. Podiam sentir o estado de espírito de cada transeunte e quais os pertenciam. Decidiram-se sentar em uma praça e começar seu jogo. Ambos observaram uma mulher loira, atraente, capaz de deixar qualquer homem louco. Desejo, impulsivo como era disse:

- Aquela me pertence. Sua mente tem ambições que compreendo muito bem. Dinheiro... muita grana, luxo, um homem poderoso. Essa foi fácil.

A mulher meche no cabelo com todo seu charme feminino, solta um sorriso de satisfação imersa em devaneio particulares. Desespero então replica:

- Não tão rápido irmãozinho. Se reparar bem ela tem mais de trinta e cinco anos e começa a entrar em meu domínio. Não namora nem um figurão, sem relacionamento estável, tem um emprego modesto e a solidão que sente só nos torna mais íntimos.

O sorriso desaparece do rosto da mulher, surgem rugas de preocupação e sua caminhada para casa torna-se mais discreta e introspectiva.

Desespero avista um mendigo tocando um violão, meio desafinado, sentado em uma esquina ao lado de um gato preto que os encara balançando o rabo de um jeito que só os felinos sabem fazer. E então diz:

- Aquele ali é meu. O infeliz está em frangalhos, não come uma refeição descente há quatro dias. Não tem parentes vivos e sabe que Quando nossa irmã mais velha vier estará sozinho.

Um homem de cabelos compridos, barba que usava uma camiseta de Robert Jhonson deteve-se diante do homem para ouvir a música que tocava. Era Death Bells do Lightining Hopkins. O cabeludo sorriu com o canto da boca, tirou Cinco reais e mais umas moedas que tinha no bolso, colocou no chapéu do homem. Desejo disse:

- Agora ele é meu. Consegue vislumbrar uma refeição bem servida e uma cachaça para aquecê-lo à noite.

- Desejo, você tem visto nosso irmão mais novo?

- Há muito não o vejo por quê?

- Por nada, ele apenas passou por minha mente agora. Estaríamos ferrados sem ele.

- Verdade, o que seria da humanidade e de nós sem o Sonho.