sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sonho Lúcido


Há muito venho tentando alcançá-lo, perante a injustiça de que muitos conseguem tal experiência com facilidade e até com certa freqüência. Li sobre o assunto, descobri um psicólogo que treinou sua mente a alcançar tal estado de consciência em seu inconsciente chegando a ter vários sonhos lúcidos por noite. Treinei-me, havia conseguido apenas uma vez um estado de semilucidez, porque após alguns segundos perdi completamente a lucidez. Experiência que para mim não contou, quero horas de sonho lúcido.

Até que essa noite, no meio de um pesadelo sem pé nem cabeça, eu parei no momento em que estava para ser capturado pelos meus medos e pensei "Isso é um sonho!". Acabei com quem me perseguia num único segundo, depois comecei a pensar com o que gostaria de sonhar. Escolhi passar uma manhã com a infância de minha mãe, viajei no tempo, cheguei na casa dos meus avós e me apresentei como um parente distante, claro que meus avós acreditaram, eu quis que eles acreditassem. Passei uma manhã inteira brincando com minha mãe ainda criança, ela me chamava de tio e tinha plena confiança em mim, pulamos amarelinha, pulamos corda, brincamos com um de seus gatos... Uma manhã maravilhosa, terminamos almoçando juntos, um arroz com feijão divino, e um bife de fígado acebolado, que ela no início não queria comer, mas com muita insistência minha comeu as colheradas que eu levava à sua boca. Nos despedimos afetuosamente com um abraço e um beijo e prometi que voltaríamos a nos ver.

De tarde resolvi visitar meu pai, mas não queria encontrá-lo na sua infância, resolvi encontrá-lo com a mesma idade que eu tenho hoje, 23. Cheguei à sua faculdade, me apresentei como um parente de sua namorada (minha mãe) e o chamei para ir a um boteco ali perto. Fomos e conversamos uma conversa animada, éramos dois jovens com muita vida pela frente, os dois com muitas incertezas, porém com muita coragem. Foi bom ver meu pai dessa forma, um rapaz disposto a aprender a viver a sua vida do jeito que lhe convir, com muito a aprender. Conversamos sobre os nossos futuros e foi ainda melhor conversar com o meu pai sobre o futuro sem que ele o tivesse vencido, foi maravilhoso poder falar de meus planos sem ter a voz da experiência para julgá-los. Terminamos a tarde tomando uma cachacinha de saidera, nos abraçamos e combinamos mais uma tarde daquela.

De noite resolvi visitar minha irmã, mas queria seguir o padrão de ver meus familiares numa época em que eu não os conhecia, e minha irmã eu a conheci durante toda a sua vida, exceto no futuro, então foi para lá que eu fui, cheguei à sua casa e ela me reconheceu como seu irmão, não estranhou que eu estivesse anos mais novo, simplesmente sentou comigo para conversarmos. Ela pegou um livro seu que havia sido publicado, era um livro de fotos artísticas que retratavam o cotidiano das pessoas comuns, eram fotografias lindas, tocantes. Depois fomos jantar, a conversa foi animada e íntima, ela me tratou com o carinho de que os irmãos compartilham com a diferença que agora ela era a mais velha. Não perguntei sobre seu marido (se é que ela tinha), nem sobre seus filhos (idem) e nem sobre seu emprego, a única pergunta ocorreu no final da noite, quando ela estava tomando um café e eu um licor delicioso que ela tinha feito, peguei sua mão esquerda com minhas duas mãos e perguntei:
-Luísa, você é feliz?
Ela abarcou minhas mãos com sua mão direita, sorriu um sorriso sincero e disse:
-Sim, muito.
Nos despedimos e eu saí pela porta dos sonhos e entrei no mundo real.

6 comentários:

João Paulo disse...

Muito bom velho!!!
O texto ficou lindo!
Isso rolou mesmo? Se rolou, que inveja...

Pronome Indefinido disse...

Rolou não.
A idéia surgiu quando eu estava na cama, mas eu estava 100% acordado...

João Paulo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Paulo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Paulo disse...

Pena que não aconteceu... mas ficou do caralho!
A foto também é muito louca, é do Salvador Dali?

Lobão disse...

Às vezes rolou e, quando você acordou, ficou como o velho do Tao, que depois de sonhar que era uma borboleta não sabia se era uma borboleta que sonhava ser humano ou se era um humano que sonhara ter sido borboleta.