sábado, 26 de setembro de 2009

Uma quinta qualquer



Eram 20h de uma quinta-feira de setembro, a noite estava quente, o mercado central estava lotado. Ele estava entre muitos outros pendurado no balcão e grita:

- Traz outra aí irmão!

Termina seu copo em dois goles sedentos enquanto espera aproxima. O mercado é um lugar bem interessante, tem muita raça de gente. Tem o cara que trabalhou o dia inteiro e está ali para dar uma relaxada antes de ir para casa, o bêbado que ficou o dia inteiro alugando os fregueses e entornando, o estudante que acabou de sair da aula, as belas moças do tambor de crioula, o traficante fazendo a sua “correria” e também as mulheres fáceis. Uma em especial me chama a atenção, seu perfume barato se mistura com o cheiro de camarão seco e cerveja choca derramada no chão. Seus olhos passeiam pelos rostos dos homens que estão ali, ela quer companhia e provavelmente acabará na cama de alguém. Sua idade aproximada deve ser de uns cinqüenta anos, ela não parece ser muito seletiva, mas ainda tem um certo critério. Ela olha para ele, isso o leva a pensar “É minha amiga... ainda falta muita cerva..” isso faz com que ele dê uma risada discreta, ela percebe, mas não compreende o real significado. Ele deixa para lá, dá uma longa golada em sua cerva e mergulha em outros pensamentos.

Outro dia havia sentado para comer um cachorro quente com um amigo e apareceu um cara que conhecia o amigo. Começaram a conversar e logo o cara começou a falar de Deus. Ele pensou “putz... lá vamos nós de novo”. Para o figura Deus era o caminho, um guia que tinha todas as respostas. O cara realmente acreditava que Deus tinha falado com ele e o que disse foi:

- É figura é isso aí...

Essa era a prova que o sujeito tinha de que Deus existe. Para ele o cara era só mais um maluco entre tantos em São Luís, perdido em pensamentos confusos que levavam a certezas inconsistentes. Mas um ponto em particular na argumentação do figura o incomodava mais que outros, por que ele precisava provar que Deus existe? A religiosidade não é construída com base em provas, mas da fé pura e simples. Ou você acredita ou não. Na ciência sim é preciso procurar evidências que corroborem uma hipótese. Deus não tem que ser comprovado pela ciência e a falta de evidência científica de que ele exista não prova que ele não exista. É prudente dar a ele o benefício da dúvida... pensando nisso ele olha ao seu redor, o mercado já está bem vazio, o irmão está fechando, é hora de partir. Olha uma imagem de cristo na parede do bar, joga um pouco de cerveja no chão e levanta o copo em direção a ele num brinde e sinal de respeito , larga o copo no balcão e deixa a feira para trás.

3 comentários:

Pronome Indefinido disse...

Muito bom, cara!

Dany Graziani disse...

"o benefício da dúvida" ....

;) mt bom msm...João!

Unknown disse...

hey johnnyboy.. =)
o texto é antigo mas como vc me mandou esses dias, acabei lendo agora um algo que me lembrou esses questionamentos do doidão aí de São Luís. É o Allan Kardec. Voilá, pra reflexão:
"[...] E, pra crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é desse século [séc. XIX], tanto assim que precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número de incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade".
(O Envangelho segundo o Espiritismo)

bjokas!