quinta-feira, 11 de março de 2010

Caminhe com minhas botas


“Puta que pariu, que cansaço. Esse sol está castigando hoje...“ Ele caminha após uma grande manhã de trabalho. Às vezes os dias parecem mais longos, às vezes mais curtos. Já fez trabalhos bem mais cansativos. “ O cansaço às vezes nos pega em uma tarde de domingo, que é apenas mais um dia de campo, de cão... “ Ele chega perto do balcão de madeira envelhecido pelos anos, tira um prato e caminha na direção da comida. “O cheiro é agradável” o homem é simples, seu gosto tinha que ser simples. Mas por que às vezes ele se sente tão cansado? “Caralho, minhas costas estão doendo” Pode ser saudade.. amigos, família... A cor da pele é morena, o sol não perdoa. A barba? Já cobre a cara toda... Alguns o invejariam pelo estilo de vida. “Bom, pelo menos chegamos cedo hoje.” Quatro horas de sol na parte da manhã. E ele é o sortudo. “A galera de pequenos deve tá andando e cozinhando com essa lua...” Tudo tem seu preço. Bem o estilo de vida é esse, se você for... o cara certo para o trabalho.

“Vi uma preguiça hoje!” . Uma barragem vai ser construída em um ponto acima do rio “Espero que a barragem não mude muito as coisas por aqui” ele sabe que as coisas vão mudar. Vai morrer bicho... ele torce para estar enganado. “Dois Inia geoffrensis saíram diante dos meus olhos de novo hoje...” termina de servir a comida e caminha tranquilamente até sua mesa, pede uma cerveja para acompanhar. Ele come, a comida é boa. Sua barba, cabelo e roupas sujas incomodam uma senhora que o encara com uma careta “ essa cocha de frango está melhor do que eu pensava” A dona do restaurante e a moça que servem as mesas o olham com um misto de simpatia e curiosidade. Talvez elas queiram alguém para conversar, para ser gentil. “que bom que vai rolar um tempinho para a digestão” A tarde promete. O tempo passa rápido demais, é hora de sair. O trampo chama são 12:50 “E que venha a tarde”

“Eu estou exatamente onde deveria” o local é uma mata de igapó, área que alaga na época das cheias. A vegetação sai da água escura, sombreia todo o local. Aves são ouvidas, um bicho grande cai na água "não deu para ver..." O local está muito alagado, mas ele e os dois moradores da cidade que conhecem a área chegam à terra firme. Pegadas de Anta, toca de tatu galinha, merda de capivara. “Essa área é foda!” vegetação perfeita, a não ser por uma estrada abandonada. “Finalmente uma floresta descente” A viagem valeu a pena, a tarde passa rápido demais, é hora de voltar. "A chuva vem em nossa direção." A voadeira prossegue inabalável. No caminho o igarapé bem preservado, a chuva ajuda a formar um cenário que deveria ser visto por todo o mundo, talvez assim as pessoas o entendessem... Ao final do dia encontra-se molhado e sujo, mas o cansaço não existe mais. Os pontos estão marcados e está tudo descrito em sua caderneta de campo. Não há muito mistério, basta ter vontade e estar lá. Na mata, no lugar certo, na hora certa. E que venha a próxima cidade, as próximas áreas, os próximos bichos, as próximas pessoas. “hoje foi um bom dia...” “talvez um dia as pessoas percebam que florestas são mais importantes do que barragens.” Ele sabe que não...

Um comentário:

Milles disse...

Porra Guri, esse seu texto foi simplesmente fodástico demais. fico feliz q vc esteja no lugar q deveria estar. espero um dia pelas mesmas coisas q vc espera...

Bjux