segunda-feira, 29 de março de 2010

Por minha conta


Estou de pé diante da minha janela, a noite é fresca, a sensação agradável, a vista é linda. Por aqui noites assim são raras e quando ocorrem é algo a ser contemplado. Daqui dá para ver a ponte toda iluminada, poucos carros transitam em uma quinta-feira chuvosa. A cidade está tranqüila, ao fechar os olhos consigo ouvir o coaxar de pererecas. A única luz que entra em meu quarto é a que vem da cidade, o vento é tranqüilizador, traz promessas de uma noite fresca. O chuvisco sobre o asfalto, um filete de água que escorre pela rua, o silencio. É como se a cidade fosse um organismo vivo e pudesse relaxar por um momento. Eu relaxo... Deito na rede e continuo a contemplar a cidade. Nosso estado de espírito parece ser o mesmo. A cidade me aceita como parte dela, me sinto em casa. Ficaremos juntos por um tempo, embora não saiba quanto. Meus caminhos já bem definidos, ao menos até certo ponto, mostram que ainda teremos algumas histórias por vir. Minha vida aqui é simples, mas muito boa. Outras pessoas têm problemas muito maiores, eu não.

Minhas dúvidas foram levadas embora já faz algum tempo. A chuva e o conforto de meu quarto parecem lavar os resquícios de minhas inseguranças, é a prova de que eu estava certo no princípio, quando decidi vir para essa cidade. É bom estar certo de vez em quando, ainda mais quando nossa opinião e vontade vão de encontro à mentalidade vigente em nossa geração. Aqui fiz amigos, conheci culturas, hábitos que muito me agradam, vi coisas diferentes, botei em cheque certezas antigas. Vivo com algumas privações sim, mas são supérfluas. Ter uma vida mais independente tem suas vantagens, é possível pensar por si só. Questionar valores familiares. É claro que a essência sempre estará lá. O objetivo não é botar tudo a baixo, mas é possível refletir sobre algumas questões, ver alguns pontos falhos e encontrar respostas bem particulares. Atenuar idéias conflitantes é reconfortante. O pensamento me deixa a vontade, a rede é confortável, a sonolência vem, me deixo levar, cochilo. Acordo pouco tempo depois não é mais um chuvisco que cai, o vento também aumenta, é hora de fechar essa janela e caçar uma cama.

3 comentários:

Lícia disse...

Não sabia que vc tinha se tornado um ótimo escritor... vou acompanhar, as novidades e os sentimentos por aqui! Mas por onde andas?
Saudades dos bons tempos de biologia... se cuida!

Pronome Indefinido disse...

Muito bom!
E que as coisas continuem assim!

Dany Graziani disse...

...Bom saber que vc está se sentindo em casa e que as coisas estão dando certo! ;)
abraços...