segunda-feira, 14 de julho de 2008

Comida



Há uns dias atrás comecei a ler um livro de Luís Fernando Veríssimo, primeiro porque a uns quatro anos atrás alguém comentou que minhas crônicas lembravam as dele e eu havia lido muito pouco do autor, geralmente crônicas que chegavam por e-mail, foi a minha chance de avaliar a escrita dele. Segundo porque o livro é composto crônicas sobre comidas, "A mesa voadora", que é um assunto que muito me interessa, afinal de contas, meus quilinhos a mais foram alcançados com pouco esforço e muito prazer gastronômico.

Bem, quanto a comparação da minha escrita com a dele, não é justa, a dele é muito superior (não que seja algo extraordinário, a minha é que não alcança um nível muito bom). Mas sobre as crônicas, apesar de serem bem escritas e bem-humoradas, não gostei muito por não concordar com o conteúdo, salvo algumas exceções como "O Buffet", "Voracidade", "Ovo". Vou começar criticando a terceira crônica ,"União, gente", que me deixou tão enfezado ao ponto de querer bater no escritor! Por que tanta agressividade? Oras, como uma pessoa que pretende escrever um livro inteiro sobre comida resolve fazer um manifesto anti-salsinha? E quando ele diz salsinha ele quer dizer tudo que é colocado no prato para "enfeite ou para confundir o paladar, o que incluiria até aqueles galhos de coisa nenhuma espetados no sorvete, o cravo no doce de coco, etc". Esse tipo de comentário desmente todo o livro, já que uma pessoa que diz uma coisa dessas não entende nada de comida, não deveria abrir a boca nem para comer e muito menos para falar asneiras como essa. Desculpe-me Fernando, mas aí você cagou (não escorregou) na maionese e serviu no churrasco! Eu, que não sei cozinhar nada, quando me aventuro na cozinha para fazer ou uma carne moída ou um molho para o macarrão coloco todas as "salsinhas" possíveis e o resultado, por incrível que pareça e modéstia a parte, fica esplêndido, o que não seria possível sem as "salsinhas". A cozinha, pelo menos a brasileira, não seria a mesma sem esses temperos. Não sei, mas a impressão que tenho é que os gaúchos não entendem nada de comida e imagino que eles em geral não gostam da tal "salsinha", basta olhar o churrasco de que tanto se orgulham, consideram o melhor churrasco do mundo, mas tudo o que vai à carne é sal grosso! Onde está a arte de que tanto falam?

E isso me leva a real crítica ao livro, ele praticamente não menciona a comida brasileira, ele só fala da comida européia, principalmente a francesa. Sério, ele não comeu nada aqui no Brasil que valesse a pena entrar no livro? Ele fala de caldos, mas não menciona o caldo-verde e muito menos a nossa maravilhosa VACA-ATOLADA! Ele chegou ao cúmulo de falar que a melhor carne que comeu foi nos Estados Unidos da América e estamos falando de um gaúcho, nem mesmo o orgulho de seu churrasco conseguiu mantê-lo fiel aos sabores de sua nação!

Não sei o que o autor tinha na cabeça para escrever tanta baboseira sobre comida, ele chega a comentar aquela porcaria de cachorro-quente de rua dos Estados Unidos quando dissertava sobre a comida de Nova York. Bem, para quem já comeu um cachorro quente em qualquer lugar do Brasil, seja no nordeste com sua carne moída ou seja em São Paulo com seu purê de batatas, sabe que aquele pão seco com aquela salsicha nojenta não merece uma gota de nossa saliva!

O Veríssimo filho fala de comida da Europa inteira, comida francesa então ele se fartou a falar, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, chegou a mencionar o Fondue de Gramados, numa crônica falou um pouquinho sobre uns restaurantes cariocas, muito pouco, quase nada e teve uma crônica de um restaurante francês aqui no Brasil, mas caçoando do sotaque nordestino do maitre. E sabe o que é irônico no livro inteiro? Ele começou uma guerra com os maitres por conta da petulância destes, num livro que tem a mesma quantidade de palavras em francês e em português, não se sabe se ele fala tanto do exterior por falta de conhecimento da nossa comida ou se é para mostrar em quantos restaurantes europeus e americanos ele comeu.

A França tem queijos e vinhos maravilhosos? Fique com eles, eu prefiro o meu queijo minas (curado ou não) ou meu queijo coalho com uma pinguinha! Pães franceses ou italianos? Pão-de-queijo! Fois Gras? Pato no Tucupí! Ostras? Sarapatel! Paella? Feijoada! Salmão? Moqueca (Baiana ou Capichaba)! Carne da Califórnia? Carne de Sol de Natal! Massas italianas? Nhoque (escrito dessa forma) de mandioca! Sorvete italiano? Pavê de cupuaçú, açaí na tigela! Chocolates suiços? Bombom de cupuaçú! Amêndoas? Castanha-do-pará ou castanha de cajú! Suco de laranja americano? Suco de cajú! Champignon? SALSINHA!!!!

Nenhum

5 comentários:

João Paulo disse...

Massa o texto muleque!!
Esse livro é que deve ser um saco...
Abração

Anônimo disse...

Gostei da observação sobre a falta de nacionalismo do autor... mas sabe como é gosto, cada um tem o seu! Do livro, eu gostei da crônica do come-e-não-engorda, é realmente um vantagem genética incomparável. Melhor que olhos azuis, cabelos lisos e 1,80m de altura.

Unknown disse...

Mais uma vez gostei muito de um texto seu.
Será que sou suspeita?!
Não, acho que não. Será???

Anônimo disse...

Você pediu meu olhar, aí vai:
Como leitora, acho que seu texto é muito legal. Você tem um estilo solto, agradável, divertido...O mais bacana acho que é porque traduz muito bem os sentimentos e isso dá vida ao texto.
Como revisora, acho que pode ajustar algumas poucas coisas. Se quiser, podemos conversar sobre isso.
Continue escrevendo!!!

Marimbas disse...

Muito bom. Tenho que ler esse livro pra verificar essas baboseiras. O Sallum é o mestre...