quarta-feira, 24 de março de 2010

Cotidiano




Uma manhã chuvosa, ele acorda, sente o cheiro dela antes de abrir os olhos. É um dia preguiçoso... o cheiro do corpo dela flui até ele, não precisa de mais nada para saber que está em casa. À noite ela sente frio e procura por seu corpo, ela o abraça, põe a cabeça sobre seu peito, a sensação é boa. O quarto é pequeno, eles estão começando uma vida. Contas para pagar, casa para arrumar, a correria do dia a dia, estresse, TPM, as coisas não são fáceis, mas podem ser simples. A estrada foi longa... árdua... e ainda será, mas eles finalmente se encontraram. São pessoas completas individualmente, um poderia muito bem viver sem o outro, mas por que fariam isso? Suas vidas são mais coloridas assim. Ele abre os olhos e a observa dormindo, respiração lenta, a tranqüilidade de seu rosto é reconfortante. Ele lhe dá um beijo na testa com cuidado para não acordá-la, sai da cama de fininho, pega uma camiseta velha e vai até a cozinha fazer um café. Como ela prefere forte, que seja forte. Na pia da cozinha algumas louças da noite anterior e três latinhas de cerveja amassadas, duas para ele, uma para ela. Em vinte minutos o café está pronto e a louça limpa, ele não quer incomodá-la. Mas como não atender a um desejo dela? Chega com cuidado na cama e lhe beija o pescoço.

- Bom dia meu amor.

Ela se vira lentamente e o olha com um sorriso preguiçoso.

- O que foi? Aquela latinha de cerveja foi demais para você?

Ela conhece aquele tom.

- Vai sonhando. Só deixei a outra para você por caridade. Você sabe como eu sou...

Ele abre um sorriso torto.

- Sua fé na humanidade sempre foi seu ponto fraco, sorte a minha.

- Que horas são?

- São seis da manhã. O café está pronto e vou pegar aquele pão quentinho para nós.

Ele lhe dá um selinho e sai.

Seus trabalhos, rotinas e alguns pensamentos são diferentes. Muitos diriam que estão apaixonados. Eles sabem que não é simples assim, nunca foi para eles. Ele sabe da importância da diversidade e ela do valor humano. No fundo eles concordam, vêem coerência um no outro, se complementam e acreditam que suas vidas são mais interessantes assim.

Um comentário:

Gabriel Penna disse...

Gostei muito desse...me identifiquei totalmente. É muito boa a sensação.